Numa tarde qualquer e fria de São Paulo, em uma sala escura, sentada próxima a sacada, carregava, no olhar perdido à janela, o peso do mundo.
Agoniada, olhava os outros (feito formigas) andando apressados rumo a sabe-se-lá-o-que. Apressados. Talvez fugissem da chuva. Iria chover, previu. O céu carregado de nuvens escuras. Aqui só chove.
Cansada demais, com o fadiga de não-se-fazer-nada, pousou o olhar na mão direita, observou e se deu conta de que fazia muito tempo que não limpava as unhas. Tinha preguiça.
No jardim da sacada, nenhuma flor.
O céu cinzento, a tarde fria, a chaleira no fogão, o olhar perdido nas unhas. Os dedos finos, de moça, lembrou-se, carregaram já, nesta vida, alguns pesados anéis.
Lembrou-se dos anéis. Lembrou-se dos rapazes, do anel de formatura, dos anéis de compromisso que foram parar na gaveta da cômoda. O tempo passa depressa.
As pessoas passam depressa pela rua. Da sacada, a avenida é singular. Apressadas. As pessoas têm pressa. A vida tem pressa. Que preguiça de acompanhar.
Na tarde fria de São Paulo, a moça de dedos finos e olhar perdido na vida, resolveu tirar o peso do mundo das costas. E resolveu que não queria mais carregar a vida. Que carreguem-me, disse. Carregaram-na, então, na amanhã de uma quarta-feira qualquer, rodeada de flores, sem anéis. Recebeu algumas coroas de amigos. Velhos amigos. Ficou tão bela. Acabou indo morar à sete palmos daqui. Talvez, lá de cima, de onde se jogou naquela tarde fria, a vista seja melhor, a vida seja mais leve.
Mas agora, tenho que ir. A vida não espera. E a gente passa tão depressa.
Ateliê da escrita
Há 6 anos no ar.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
terça-feira, 9 de setembro de 2014
"Coloca tua felicidade num potinho.
Faça, abaixo dele, furinhos.
Mas não coloque a tampa.
A felicidade é livre,
está em todos e tudo,
no infinito acampa.
Mas não esqueça de regar o pote,
porque a felicidade é realizar sonhos,
e os sonhos têm sede,
querem se banhar.
Às vezes os regamos com lágrimas,
quando passamos por situações árduas,
onde somente dos olhos a água se faz brotar.
Que seja na dor ou na alegria,
regue o potinho (todo dia).
Não o deixa secar.
Os sonhos têm sede (lembre-se),
e é preciso sacia-los.
Regue-os, então,
(mas não precisa sufocá-los),
para que dali possa brotar,
na alegria ou na dor...
uma flor. A felicidade."
Faça, abaixo dele, furinhos.
Mas não coloque a tampa.
A felicidade é livre,
está em todos e tudo,
no infinito acampa.
Mas não esqueça de regar o pote,
porque a felicidade é realizar sonhos,
e os sonhos têm sede,
querem se banhar.
Às vezes os regamos com lágrimas,
quando passamos por situações árduas,
onde somente dos olhos a água se faz brotar.
Que seja na dor ou na alegria,
regue o potinho (todo dia).
Não o deixa secar.
Os sonhos têm sede (lembre-se),
e é preciso sacia-los.
Regue-os, então,
(mas não precisa sufocá-los),
para que dali possa brotar,
na alegria ou na dor...
uma flor. A felicidade."
Gabriela Omena
09/09
quarta-feira, 18 de junho de 2014
sábado, 14 de junho de 2014
(par)tiu
partiu
partiu de casa
rumo a rodoviária
partiu em dois
separou-se do nós
tornou-se apenas ele
como no princípio.
partiu em dois
desatou o nó que nos unia
partiu só rumo a rodoviária
preencheu a mala com o que ainda restava
quase nada
partiu só
rumo a rodoviária
mas chegando lá,
disse que partiu em dois a passagem
resolveu voltar pra casa.
e dividir comigo o resto dele
tornarmo-nos nós
outra vez
14.06
partiu de casa
rumo a rodoviária
partiu em dois
separou-se do nós
tornou-se apenas ele
como no princípio.
partiu em dois
desatou o nó que nos unia
partiu só rumo a rodoviária
preencheu a mala com o que ainda restava
quase nada
partiu só
rumo a rodoviária
mas chegando lá,
disse que partiu em dois a passagem
resolveu voltar pra casa.
e dividir comigo o resto dele
tornarmo-nos nós
outra vez
14.06
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