Desde que ele se fora, ela nunca mais havia ido à janela contemplar as gotas de chuva que batiam e respingavam no telhado. Nunca mais contemplara também as nuvens, agora já escuras, cheias de gotículas minúsculas; lágrimas talvez. Elas escorriam pelo vidro, se arrastavam pela calha prensa à parede, provocavam pequenos ruídos, batuques de chuva, dizia ela. Mas não se dava conta, ou apenas fingia que não notava a chuva a cair lá fora.
O céu pra um azul vinil, o mesmo que enrubesceu sua tarde de Setembro. Ele partira, partira na chuva. Deixou-a sozinha sem desculpas, deixou-lhe apenas com tormentos, sem sentimentos.Desde então nunca mais fora a janela.
Não queria imaginar como seria, olhar através dela e nem ao menos ver a penumbra do tal rapaz. O rapaz que lhe surgia somente em sonhos para despertar a tal paixão já adormecida. Nem sequer recordava-se de como era seu tom dos olhos. Já fazia tanto tempo...
Mas nem assim ela ia à janela ver a chuva cair regando a população.
A chuva é a vida, assim pensava ela, ela rega a todos que têm sede, sede de vida. Olhava a costura de uma velha camisa de manga rasgada e depois retomava seus pensamentos: Eis que não quero a minha. Lá fora, quando a chuva cai, nada é meu, nada me possui. Não o quero aqui, pois quero que vá com malditas lembranças. Não quero pensar em como era bom estarmos contentes tomando um banho de chuva. O guarda-chuva disposto na mão, mas em nós o simples desejo de sermos regados de vida, regados pelo amor que nos continha. E então a chuva um dia recolheu tudo o que um dia nos trouxe. Levou você com ela deixando-me só. Eis que agora não vou à janela, olhar a chuva rir de mim, regando todos os outros que passam felizes, os regando com seu amor do mesmo modo que um dia também regou a mim.
A chuva caía, mas logo em seguida vinha os raios de sol com sua doçura confortá-la com sua piedade.
Talvez um dia, quem sabe... os raios não houvessem de ensiná-la que após toda tempestade, lá fora mais tarde surge um sol esplendoroso. Mas somente nos damos conta de sua graça quando vislumbramos coisas más.
Talvez um dia, quem sabe... os raios não houvessem de ensiná-la que após toda tempestade, lá fora mais tarde surge um sol esplendoroso. Mas somente nos damos conta de sua graça quando vislumbramos coisas más.
A vida é assim. É preciso um pouco de gelo, gelado... o frio; para o calor vir e acalentar por inteiro a alma febril.
• Pauta para Bloínquês •
17ª edição visual.
"É preciso um pouco de gelo, gelado... o frio; para o calor vir e acalentar por inteiro a alma febril."
ResponderExcluirLindo!
Bjs!
"É preciso um pouco de gelo, gelado... o frio; para o calor vir e acalentar por inteiro a alma febril."
ResponderExcluirQue lindo, de verdade, e acho que não deve se render, teu texto está muito bom, passa sentimento, é sensível. Lindo mesmo, e terminou com chave de ouro viu!
Beijos, Alessandra.
a chuva sempre me lembra um pouco melancolia e frio. e também me lembra amor.
ResponderExcluira última frase foi a melhor *-*
se cuida :*
Hum...
ResponderExcluirDeu um aperto no meu peito...
Belo texto...
Bjs