e na esquina, rola um samba
Da sacada eu ouço vozes
um gargalhar sem sono
de conversas paralelas
A noite nunca é vazia
só a rua que cruza a avenida
não transita ninguém, apenas ratos
a violência tem esvaziado espaços.
A noite não é vazia... mas é repleta de medo
de gente que cruza as ruazinhas escuras com as coisas de valor no bolso
é o pavor do assalto, do abuso, estupro, soluços, morte
da garota que morreu outro dia
ainda ouço os gritos da moça em agonia.
a vizinhança não engoliu tal chacina
não engoliu, não.
Mas o jornal trocou o nome da menina
hoje não é Julia que morre, é Mariana
amanhã é Izabel, Fernanda e Juliana
Todo dia morre Esperança
morre um possível futuro
morre uma geração dos Silva,
Oliveira, família Brasileira
Morre
Morre
Morre
Incontáveis nomes, histórias, sonhos e mortes.
Mas na esquina rola um samba
e a polícia para pra uma boca livre
ignora a rua sem vigilância
e lá está, veja só, mais uma alma perdida
que sobe o vão em passos largos
temendo igual agonia
Mas a noite nunca é vazia...
sempre há uma alma gananciosa em busca de oportunidade
Na esquina rola um samba
a menina grita
a polícia não escuta
o batuque abafa o soluço
da mãe que chora a noite.
O jornal atualiza a manchete:
Hoje não é Taís, é Valdete.
[Gabriela Marques]
28/08/2013
Seja a janela da TV ou da sua casa a realidade é cruel, difícil de olhar. O mais impressionante é que a resposta a barbárie, reside no mesmo que a comete. É olhando em volta, para outros humanos, é que acreditamos e conseguimos olhar para frente e tentar construir algo melhor.
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