sexta-feira, 24 de julho de 2009

E se for verdade? - Tema 44ª semana

Era 14 de Dezembro de 2006 quando mamãe trouxe da cozinha uma minúscula caixinha prateada. O porque ainda lembro da data?! Impossível esquecer... Era meu aniversário.
- Mas o que é isso?
- Abra e veja, querida!
Assim que abri a tal da caixinha misteriosa fiquei pasmada. Não havia nada ali.
- Mas não há nada aqui! - resmunguei.
- Calma, há sim. Veja lá no fundo. Veja com atenção. Pode parecer um vazio, mas lá no fundo está seu presente: aquele cujo vai realizar todos os seus sonhos.
Realizar todos os meus sonhos, realizar todos os meus sonhos...

Senti tudo girar num piscar de olhos e então me deparei com um escuro infindável. OH DROGA! Aonde fui parar? Me mexi desesperada e depois de uma tolice de pavor, descobri que estava debaixo de um cobertor.
Levantei ele lentamente e notei que estava num aposento de luxo, talvez um quarto de hóspedes ou então em um hotel. Mas que coisa! Estava há dois minutos na sala, aonde estou agora?
Levantei da cama em disparada e corri para a porta.
Por estranho que pareça eu estava de langerie.
Abri a porta e surgiu um corredor largo e comprido. Estava enfeitado com uma porção de quadros e... AH! Havia um áquario também... Adoro peixinhos, sabia? Mamãe pôs um fim nos meus peixinhos assim que decidi que iria parar de limpar o áquario, dava muito trabalho aquilo tudo. [...]
- Gabriela, amor, você acordou! Bom dia.
Quem era aquele cara vindo em minha direção!? Por que ele me chamou de amor?! E que roupa horrível era aquela que ele usava? E aquela barriga? E se ele fosse meu marido teria que admitir que tenho um péssimo gosto, hein?
- Bom dia. - respondi meio zonza.
- Tudo bem? Esperava que você não acordasse a essa hora. Na verdade, você nunca parece acordar, sempre parece meio molenga e dorminhoca. - ele riu da própria piada, mas não havia graça nenhuma naquilo.
Sorri forçadamente e então decidi fingir que sabia o que acontecia. Afinal, o que tinha acontecido comigo? Será que eu sofri um acidente, bati a cabeça e não lembrava mais de nada?
Odeio hospitais, vou ficar na minha antes que eu volte a pirar. É tudo um sonho, já já vou acordar mesmo, não é necessário surtar.
Passei por ele e percorri o corredor até o fim. Descobri um banheiro logo ali. Antes que pudesse pensar melhor, me enfiei nele e tranquei a porta.
Me olhei no espelho. Quem sou eu? Estou mais gorda! E essas rugas? OH MEU DEUS! Olhe meus peitos... Como eles estão caídos! Que nojo!
De repente alguém bate na porta.
- Mamãe, deixa eu entrar, quero fazer pipi.
- OH MEU DEUS! EU TENHO UM FILHO! - deixei escapar alto demais.
- Tudo bem, mamãe? Sou eu, a Alice, deixa eu entrar!
A criança estava desesperada lá fora. Saía capeta da minha vida. Que loucura é essa de filho?! Isso é sonho, meu Deus! Isso é apenas um sonho.
- Mamãe?
O que eu devo fazer? E se ela começar a gritar?- Mamãe. A senhora está ai?
- Estou sim, meu amor. Só um momento.
Mas que besteira eu estava fazendo? Iria deixar aquela criança dizendo ser minha filha entrar ali? E se ela fosse um demônio em criança? Mas que horror, Gabriela! Faça me rir! Não deve ser tão difícil assim.
EU QUERO A MINHA MÃE. NÃO TENHO FILHO NENHUM! NÃO SOU CASADA, NÃO TENHO MARIDO, NEM FILHO. EU QUERO A MINHA ESCOLA. EU QUERO A MINHA VIIIIIIIIIIIDA!

E então olhando para meu reflexo no espelho lembrei de algo muito importante:
Veja lá no fundo. Veja com atenção. Pode parecer um vázio, mas lá no fundo está seu presente: aquele cujo vai realizar todos os seus sonhos.
Era as palavras de mamãe. EU QUERO A MIIIIIIIIINHA MÃAAE! Não quero filho, não quero marido, nem casamento. Eu quero a minha mãe!
Mas tudo fazia sentido. Eu só tinha que desejar minha família e adolescência de volta.
Pensei lá no fundo do meu eu, desejando mais que tudo que fosse aquilo um sonho... E então acordei na minha cama, no meu quarto, na minha casa, com mamãe na cozinha e papai na sala vendo futebol.
- Olá querida, você acordou. Tenho um presente pra você.
- Se for uma caixinha prateada guarde a pra si, não quero ela. OK?
Mamãe olhou assustada mais logo pareceu compreender.

Logo que recuperei minha vida gloriosa devolta fiquei me questionando se aquele seria meu futuro, ou então: Será que aquilo realmente aconteceu?
Sinti dó daquela pobre Alice que dizia ser minha filha, ela não teria culpa se eu ainda me achava uma adolescente irresponsavel para assumir uma criança.
E aquele meu corpo? Será que meus peitos caíriam daquele jeito?
E se for verdade... Tudo aquilo?
Relaxei ao tomar noção que estava viva, jovem e bela. E o que importava é que o pior passou.

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