segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Me dê um minuto para lhe contar tudo

Eu nunca soube realmente o que era me mudar, até que mamãe entrou no quarto dizendo que precisávamos vender a casa urgentemente. É lógico que, pela expressão no rosto dela aquilo não era nada bom; não era algo decidido com o tempo, ou até mesmo de boa vontade.
Por que mamãe?
Você é pequena demais pra compreender, meu anjinho. Foi as únicas e últimas palavras que ela disse aquela noite. O restante dela, ficou grudado ao telefone falando com pessoas de imóveis e corretores. Mas o que era tudo aquilo afinal? Por que tanta pressa? Mamãe sempre gostou daquele nosso lar, sempre tão espremidinho, simples, mas aconchegante. Não compreendia.
Talvez eu fosse mesmo pequena demais para aquilo. Para aquilo. Mas pude perfeitamente entender que papai não estava mais entre nós. Suas coisas não estavam mais ali, nem sua papelada extremamente ocupante estava mais na cozinha. Me recordo de ouvir diversas vezes mamãe resmungar por elas estarem ali atrapalhando as visitas ou até nós mesmos à irmos jantar unidos à mesa. Embora isso raramente acontecesse, já que papai nunca foi uma pessoa tão presente. Muitas vezes comíamos sozinhos, cada qual jogado em seu pedacinho da casa. Gostava de comer em meu quarto, mas sempre era obrigada a limpar a sujeira em que eu fazia nele.
Procurei pelas roupas de papai, elas também não estavam mais ali. Pra onde foram?, todas as esperanças já haviam tomado seu caminho. Talvez elas tivessem parado para tomar um café na casa de vovó.
- Mamãe, vamos morar aqui agora?
- Ora, querida. Você faz muitas perguntas. É só por um tempo, até as coisas se ajeitarem.
- Você e papai terminaram? Papai não está mais conosco; sinto falta dele.
Ela se agachou para poder me abraçar forte e uma lágrima de seu rosto rolou por meu ombro.
Era pequena demais pra abraçá-la lhe dando reconforto, lhe ajudando naquele momento; acho que foi por isto que ela foi procurar à mãe, afim de encontrar aquilo que eu não poderia lhe oferecer. Bom, se eu fosse dona no futuro e pudesse falar com as pessoas, orientá-las a não cometer burrices; eu diria logo a ela não tocar a campainha, não fora uma das boas escolhas em que ela tomou em sua vida.

₪⌂₪

Vovó estava tão jovem àquela época; invejável para até alguns. Linda, transparecendo juventude naquela carcaça de mau-gente. Sorriso no rosto nos recebeu na porta, empurrou algumas malas para dentro, suspirou umas três vezes e logo disse expressando raiva: "Brigaram novamente? Vai passar a noite aqui, não é?"
Mamãe atropelava as palavras enquanto carregava minha mochila de rodinha.
Só por umas semanas. Eu e Benedita já vamos partir logo, logo.

Era duro poder ver aquilo tudo da visão que eu tinha. Perder um pai naquela época era como perder o chão. Precisava dele mais que nunca e aceitar o fato de sua partida sem avisos ou despedidas era o fim para mim. Na escola todos tinham pais unidos, e nas reuniões eles apareciam sorrindo, e seus filhos pulavam de alegria para lá e para cá, quando o viam saindo da sala de reuniões com seus desenhos abaixo dos braços. Sorridentes, felizes demais, e eu nunca soube o que era sentir aquilo.
Um ano se passou, nós ainda moravámos com a vovó. Digamos assim: somos bem-vindos por um tempo, depois passamos para uma desgraçada pedra no sapato.
Vovó não nos aguentava mais, hoje vejo que, ela estava com razão. Era duro ver sua filha casando tão jovem com um cara como meu pai, - um que ela não havia aprovado desde o início. Parece que mãe sente esse lance de amor. Talvez porque já têm noção de como é um - e depois a ver de volta à casa, sozinha, com apenas bagagens de roupas velhas e uma filha de 5 anos para alimentar.
Deveria naquele momento dividir sua pequena aposentadoria com mais duas. Eu, como sempre não muito consumista; já havia me acostumado desde a infância a não obter gastos, nem mesmo comprar lanchinhos na escola, tudo era feito em casa, ou às vezes mal comia. Mamãe precisava de roupas boas, de marca, para conseguir emprego. Mas eu mal sabia do que ela trabalhava...
Vovó, pegava muito no pé. Depois que nos mudamos pra lá, ela virou como a minha segunda mãe. E às vezes, eu ia na casa da minha outra vó, mãe de papai.
Notícias de papai?! Nunca recebi. O que me resta dele é um porta-retrato com uma foto nossa num Natal em família, muito antiga, porém me recordo de boas coisas naquele dia.
Mamãe, odiava falar de papai. Mas eu duvidava que ela mentira sobre não saber de sua partida desesperada.


5 comentários:

  1. Amei a continuação do melodrama. Gosto de histórias e estórias assim, dramáticas. :P

    Até a próxima.
    Ótima semana pra ti.

    Beijo, Gabi!

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  2. Oi,
    Gostei do texto.
    e tem vezes que or mais, que queiremos,trocar de assunto e não escrever coisas dramaticas e tales. sempre acabamos voltando para esse assunto, mas, é por épocas.

    Tu ainda quer criar um blog com ajuda ?

    fale comigo pelo msn : ac_and_ap@ hotmail.com

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  3. Ahh gostei!

    Eu tb num consigo esscreve sobre outra coisa no meu blog!!uashaushuahs

    Ahh e respeito do blog k tu que cria, gostei, e gosto d escrve pakas, msm num parecendo...

    qlqr coisa sobre o assunto
    camila_livilivi@hotmail.com

    bjo flor

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  4. Gabih, nós não mudamos mesmo... eu continuo com o meu estilo realista e frio, e você com o seu estilo romântico e dramático. Embora não seja o meu gênero de leitura favorito, não posso negar que você escreve muito bem. Está de parabéns! Desde a última vez que visitei o seu blog, você melhorou muito!Continue escrevendo e lendo, pois assim continuará melhorando cada vez mais!

    Beijos

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  5. nossa, adorei *-*. fiquei meio intrigada com toda a situaçao e sei lá, adoro narrador na primeira pessoa, deixa tudo no mistério.
    estou meio sem tempo agora, lerei mais tarde as outras duas partes, ok?

    se cuida :*

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