Marcas

Ele entrou porta adentro com um sorriso bobo no rosto. Ela, sentava no sofá assistindo a novela das seis, virou-se pra ele e contribuiu o sorriso, embora este fosse de curiosidade.
- Um dia maravilhoso, pelo visto!
Ele passou por ela, abandonou a mochila na poltrona e voltou para abraçá-la forte. Deu-lhe um beijo, um ainda melhor que o último que dera mais cedo quando saíra para trabalhar.
- Trouxe algo pra mim?
Ela riu, olhando a mochila que ele acabara de deixar na poltrona. Ele ficou em silêncio.
- O que foi? - ela se desesperou - Esqueci algo? Ou melhor, devia dizer algo e não disse?
- Não...
- Porque você está se comportando assim? Hoje é um dia especial?! Alguma data comemorativa nossa? Que cara é essa? - ela não sabia se ria, se mantinha o desespero, e por fim optou pelo costumeiro riso nervoso.
- Todo dia é especial, ainda mais quando volto e vejo você exatamente aí sentada com os olhinhos vidrados na televisão e...
Ela fez uma careta e ele continuou:
- Quer saber? Eu tenho uma coisa pra te falar, mas não sei se devo...
- Por quê? Fala logo, Homem!
- É que eu te amo!
- Bobo! - e riu
- Falo sério!
- Também te amo, e muito, sabia?
E inclinando a cabeça, o beijou mais uma vez, e outra... De repente perderam a linha do raciocínio, nem lembravam mais do que falavam. Ele, então, a segurou pelos ombros e ficou olhando no fundo dos olhos dela, admirado, completamente anestesiado, no auge de uma paixão.
- Veja só isso. Fiz por você.
Ele então a largou e com as duas mãos levantou cuidadosamente a camisa, revelando uma recém tatuagem escrita seu nome junto ao nome dela.
- Você é um louco! - e agora ela estava mesmo nervosa. Irritou-se.
Ele confuso e surpreso com a reação da amada, abaixou a camisa, e ficou quieto, pensando.
- Sou um louco mesmo. Por você!
- Agora é sério, Amor! Você passou dos limites. Tatuar meu nome em seu corpo, que bobagem! Que futilidade.
- Não fiz por mal, e seu nome está ao lado do meu... O rapaz que me tatuou achou uma homenagem de amor tão linda, acredito que você mereça.
- Talvez eu mereça agora, mas e depois?
- Depois?!
- Depois quando o amor acabar...
- Nosso amor nunca irá acabar.
- Você parece um adolescente falando. Seja sincero consigo mesmo, sabe muito bem que a vida é feita de momentos, e que agora, neste exato momento, eu te quero ao meu lado, mais que tudo e todos, mas e depois? Quem garante que será sempre assim?
- Eu. Farei de tudo para que não se acabe.
- Promessas são dívidas não pagas.
- Mas mesmo que se acabe, e daí? Você me marcou, veja!
- Marquei teu corpo como se fosse propriedade minha, mas não é.
- Como assim?
- Meu nome no teu corpo... me faz sentir como se fosse tua dona... e não gosto disso! Gosto da ideia de você ser seu, e escolher a mim para estar ao teu lado. Não quero ser tua e nem quero que tu sejas meu. Sejamos apenas nós, nós juntos. Dois corpos distintos unidos por livre e espontânea vontade. E se um dia tudo se acabar, e espero sinceramente que não aconteça, acredito que a maior marca que um dia ficará em mim, será aqui - e pontou para o próprio coração - e aqui - disse agora apontando para a cabeça.
- Espero que não se acabe.
- Espero o mesmo.
- Não gostou mesmo da tatuagem? - perguntou ele arrastando as palavras.
- Não. Eu gosto mais é de você.

11 de março de 2011
[Gabriela Marques]