segunda-feira, 7 de março de 2011

Senhora Isabel

A campainha tocou, a porta se abriu e uma cabeça apareceu no vão. Pois não?, uma moça baixinha de óculos quis saber.
- Sou Isabel, tenho uma consulta com a Dra. Alice - explicou-se.
A secretária baixinha fechou a porta e Isabel pôde ouvir o estalar do cadeado destrancando a mesma.
- Entre. Sou Giulia - apresentou-se ela por fim escancarando a porta - Sente-se, ela logo irá chamá-la.
E então, a moça de uniforme azul deu passagem à Isabel que logo avistou uma sala de espera.
Na sala, haviam mais duas pessoas: uma mulher um pouco magra, calada demais e neurótica, como Isabel pôde notar mais tarde, depois de quase meia hora de espera. E havia também um rapaz que se sentava na poltrona à frente da sua, e este não parou de fitar suas pernas sequer um segundo. Talvez ele seja um maníaco por sexo, pensou Isabel consigo mesma, e depois riu em seu íntimo. Puxou a saia um pouco mais ao joelho e começou a folhear uma revista qualquer, sem sequer dar atenção às matérias, somente para passar o tempo, mas desta logo se enjoo e a devolveu à mesa de centro.
Ainda no colo, Isabel trazia sua bolsa de camurça. Suas pernas agitavam-se se impaciência. Isabel tentou controlar-se para não puxar um cigarro ali mesmo. Precisava de fumo, precisava de algo desestressante. Pensou em quanto tempo fazia que não fumava algo. Poxa, faz duas horas, atualizou-se ela olhando agora para o relógio de parede. Desde o fim do expediente. Nada, nenhunzinho. Passou a língua seca pelo céu da boca. Pensou em ir ao banheiro, ou então sair. É, vou dar uma saidinha, mas antes, já de pé, virou-se para a recepcionista: Que horas ela poderá atender-me? A moça que checava alguns arquivos pelo computador, reproduziu um muxoxo, e depois de alguns longos segundos, disse meio que num sussurro: Logo, senhora, logo.
Percorreu até a porta, e quando se felicitava a sair para fumar um maço, a mesma secretária que lhe havia aberto a porta, agora a fazia fechar. Senhora Camargo, Dra. Alice lhe espera.
Droga. Mais 15 minutos e uma tragada. Mais 15 minutos...
Isabel virou-se lenta e histericamente. Sorriu amarelo e entrou na sala seguida da secretária que fez menção a apresentá-la à Dra.
- Sim, Giulia, obrigada - disse a Dra. verificando alguns papeis dispersos na mesa.
Isabel sentou-se, e ficou aguardando qualquer palavra, mas a Dra não o fez.
Agitando ainda as pernas, amaldiçoou a mesma. Se soubesse que me chamaria para vê-la assinar papeladas, estaria eu sorrindo e contente tragando meu cigarrinho. Doente!
- E então - finalmente cuspiu a Dra abandonando as papeladas numa gaveta - Pelo visto, sua primeira consulta.
- Sim...
- Já é um grande passo. Iniciar, eu digo, muito deles têm preconceito em aceitar-se. Mas peço desculpas, Senhora - vacilou ela olhando enfim o único papel que sobrara sob a mesa - Isabel. Senhora Isabel - corrigiu ela.
- Peço desculpas - continuou ela - pela demora. O trânsito tem sido uma loucura, não?
- Hum...
Isabel ainda agitava as pernas freneticamente. O medo do imprevisível.
- Ainda dirigi, Isabel? - quis saber a Dra enquanto tiquetaqueava uma caneta - Posso chamá-la assim, não posso?
- Isabel está bom.
- Ainda dirige depois da morte de seu filho? - disse a Dra. refazendo a pergunta.
Isabel então engoliu em seco.
- Não penso assim, declarou ela.
- Assim como?
- Juninho... Ele não morreu!
- E por que não, Isabel?
- Porque... não...
- Recebi um Laudo esta amanhã... E lá diz que...
- Podemos falar de outra coisa?
- Tudo bem.
Alice, ou melhor: a Dra. Alice, sentiu-se mal, "aquela mulher matara o próprio filho e agora não queria falar sobre?!" Sentiu raiva, ou então até mesmo pena. Não posso me envolver. Nunca se envolva com a vida de seu paciente. Nunca.
- Tudo bem...Que tal então você começar a falar sobre seu problema com drogas, Isabel?

7 comentários:

  1. Me parece que vai continuar...
    Ficou um ar de: Continua...
    Fiquei curiosa...
    Belo conto!!!

    Bjs

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  2. Saudade. (Não tem outra maneira de começar...)

    Muito bom!
    Não consegui imaginar o que levou Isabel ao consultório até ser revelado. E eu sempre gostei de ser surpreendido.
    Concordo com as outras pessoas, uma continuação seria muito bom.

    Beijo!

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  3. Olá gostaria que visita se meu blog que é dedicado a cultura. Espero que goste nele tenho uma coluna poética aos sábados ás 09 da manhã espero poder contar com sua visita.

    Sucesso em seu espaço.

    Magno Oliveira
    Twitter: @oliveirasmagno ou twitter/oliveirasmagno
    Telefone: 55 11 61903992
    E-mail oliveira_m_silva@hotmail.com

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  4. É preciso se ter muita coragem para enfrentar os problemas internos!

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