quinta-feira, 7 de junho de 2012

O verbo e seus complementos

Tudo começa com um verbo, você me disse e eu me lembro bem. Lembro-me dos livros a tira colo, a maneira como ajeitava o óculos [...].
Perguntavam-me, até outro dia, o que eu achei em você. Coisa estranha de se perguntar, não? Eu não sei bem porque gostei tanto, talvez pelo estilo do seu cabelo ou jeito largado que você andava; mas eu gostava mesmo era das histórias, eu gostava do bapo, gostava do assunto sem fim. Gostava da saudade que sentia do seu abraço minutos após desfazê-lo... Dava vontade de ficar ali o dia todo, mas o tique-taque mandava-me para casa. Amanhã eu acordaria cedo, e seria mais uma semana sem você. Entretanto, o final daquela, anunciaria mais um fim de semana ao seu lado e só de pensar em lhe ver em breve, despertava-me uma constante alegria.
E eu voltava sorrindo pra casa. Um sorriso entreaberto. Os garotos me olhavam distantes, que menina tão bela é aquela que sorri? Porque as garotas ficam tão belas quando apaixonadas.
Seria apenas uma semana, uma semana passa depressa, eu nunca esquecia de sussurrar isso pra você (e para mim mesma). E passava, pois a única coisa que me importava era o fim da semana, e por mais que demorasse a passagem dos dias, sexta-feira esquecia-me completamente da incessante agonia que vivenciei os cinco dias anteriores em sua ausência. Era alegria. Mistura de felicidade com nervosismo. Tinha medo. Porque quem ama o tem. E que o tem e ama não deixa de ser feliz.
Creio que tinha medo de lhe perder, tinha medo de não mais lhe ver. E então, de fato, ai sim, minhas semanas seriam ainda mais (terrivelmente) agonizantes. Perder-lhe dentro de mim.
Não sei se foi o medo ou se foi a minha insegurança. O amor não foi suficiente? Foi temendo lhe perder que lhe perdi. Foi contando as horas para lhe ver que não mais lhe vi. Minhas voltas para casa nunca mais foram as mesmas. Seu perfume não estava mais em meu agasalho, e não havia mais motivos para colocar créditos no celular. Olhar para a janela não mais tinha graça era apenas meu reflexo no espelho e a paisagem lá fora... e os pensamentos perdidos em você para onde foram? Olhar a janela antes era o pretexto para perder-me em pensamentos, agora era um motivo de procurar seu rosto na multidão lá fora. O rosto que vi pela última vez, o rosto que me despertava uma alegria constante.
Eu gostava tanto de você. E quem não gostava era meu relógio e as conduções de volta à casa, que tantas vezes as perdia pela extensão de nossas conversas. Não tinha fim. E quem poderia explicar? Não tinha.
Não TINHA. Porque tudo começa com um verbo, como você me disse da última vez que nos vimos. Lembro-me de como você deu ênfase na conjunção não obstante e de como fiquei tão orgulhosa por você encontrar uma frase na qual empregá-la. Sabe, o problema não está com os verbos - apesar deles serem o início do todo - está com os complementos. Iniciar uma frase é ousado, mas quem tem a missão de finalizá-las não teme a dor alheia. Mas tudo este resto eu aprendi sozinha.
Você disse e eu me lembro:
Não obstante da situação, ainda seremos amigos.




[Gabriela Marques de Omena]


Mais um romance para adocicar (ou não) seu Dia dos Namorados. Que cá entre nós é apenas um dia, pois quem ama, ama todos os dias, e todos os dias, portanto, são enamorados. 
P.S.: Aos que acompanham minha paixão pela escrita, peço desculpa pelo sumiço repentino. Mas até eu tenho minhas explicações: ser blogueira e ter um computador personificado em tartaruga é complicado. Porém, tentarei aparecer mais vezes. Devo incessantes visitinhas!! 
Beijo doce e saudade daqueles que acompanho e admiro.


4 comentários:

  1. O temor da perda aumenta a sua probabilidade de ocorrência...
    Gostei muito do texto. A tua narrativa é magnífica e muito bem estruturada.
    Gabriela, querida amiga, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
    Beijo.

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  2. Depois de tanto tempo você vem e me deixa sem palavras, como sempre.
    Várias partes do teu texto tocaram em minha ferida. Isso me deixa não só sem palavras. Me deixa sem fôlego. É como mexer em ferida não curada sobre a pele. Tentei até reler o texto, mas doeu um pouco mais. Essa coisa de mexer em ferida é muito complicada.
    Só acho que aquele que tem a missão a finalizar a frase teme a dor alheia. Mas, às vezes, é preciso finalizar de qualquer forma.
    Beijo, Gabi.

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  3. Acredito que o importante é não ter medo de escrever um ponto final. Muitos abandonam frases pela metade.

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  4. "Mas tudo este resto eu aprendi sozinha." O texto é muito poético nas memórias, mas essa frase, essa frase é poderosa.
    Bom te ler de novo, saudações!

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