terça-feira, 29 de junho de 2010

Despedida IX


Parte IX

Lívia pegou o primeiro ônibus que viu. Ela fazia isso há um bom tempo, desde que entrara para a faculdade. Todos os ônibus que passavam naquele ponto passavam em frente à sua faculdade, então pouco importava qual ela tomaria.
Todas as viagens ia em pé, como de costume, sempre o mesmo pique do dia: o ônibus lotado.
Sempre o primeiro ônibus, até que certo dia o destino lhe pregou uma peça daquelas...
Estava quase para saltar na faculdade, quando tropeçou em uma mochila jogada ao chão e esbarrou empurrando sem querer num tal rapaz, que minutos depois desceu no mesmo ponto que ela.
- Desculpe, não quis...
- Tudo bem.
Ele sorriu seguindo sem olhar pra trás.
Cético o tal rapaz.
Lívia pensou em correr atrás dele e puxar assunto, mas não insistiu em tal idéia maluca.

No outro dia, encontrou, sem ao menos querer, novamente o mesmo rapaz; agora que falava com um amigo também seu.
- O que dizia mesmo? Isso é impossível, já disse! - falou o rapaz ao tal amigo.
Lívia o conhecia, digo: o amigo. Era também seu amigo, quer dizer, um cara qualquer, provavelmente que queria algo a mais com ela. Ele lhe dera uma boa ajuda com as malas quando ela se mudou para o seu novo apartamento - no qual ele era vizinho do andar de cima.
O rapaz dissera seu nome, mas Lívia nem dera ouvidos. Talvez Marco, ou Márcio; não fazia ideia.
Mas tudo se encaixou quando Lívia, passou por eles até achar um lugar para se instalar no meio daquela bagunça de seres humanos querendo se ajustar em um ônibus de apenas 53 lugares.
- Lívia?! - chamou o tal garoto. Ele havia guardado bem o nome de Lívia, o que não poderia se dizer o mesmo dela. Mal sabia o nome do garoto.
- Oi. - sorriu ela sem jeito. Qual era mesmo o nome dele? rs
- Não está lembrada de mim?
- Lógico que estou!
Lívia agachou-se encaixando sua bolsa num cantinho, no chão e, com a outra mão ajeitou uma ou duas mechas que haviam caído sobre seu rosto.
- Foi você quem me ajudou com as malas. Lógico que lembro. Obrigada mais uma vez.
- Que isso... Você é nova por aqui, precisava de uma mãozinha. - riu ele - Caio, esta é a Lívia de quem eu falei.
- Você falou de mim?!
- Falei. Lógico que falei. Se incomoda com isso? - estranhou ele.
- Não... só achei estranho você falar de mim pra um alguém que eu nem sequer conheço.
- Opa... Agora me conhece. - disse o tal rapaz, Caio, tirando a mão do apoio aonde se segurava no ônibus. Caio apertou a mão direita de Lívia que estava desocupada. - E a propósito, nos esbarramos ontem se você não está lembrada.
- É... eu lembro.
- Então vocês já se conhecem?
- Não. - disse ligeiramente Lívia.
O rapaz fez um ar de cético novamente e então Lívia notou que havia sido um pouco grossa, bem mais do que esperava.
- Quer dizer, sim. - respirou - Não nos falamos muito, mas nós trocamos pedidos de desculpas.
- É. - suspirou o rapaz, Caio - Desculpas aceitas.
- Uma forma bem engraçada de se conhecer. Pedindo logo desculpas! Talvez seja um sinal... - disse o tal rapaz que Lívia ainda não se recordara do maldito nome.
- Sinal?! De quê? - espantou-se Lívia.
- De que vocês ainda vão se machucar muito... Quero dizer, um ao outro.
- Que nada! Bobagem sua, Carlos. Se for para sermos amigos, seremos bons amigos, e nada mais de desculpas.
Carlos... Agora sim fazia sentido.
- Oi, prazer. Eu sou o Carlos. Sou da engenharia civil, da mesma faculdade que você, mas sou do andar de cima; o que não é de estranhar, até neste prédio sou seu vizinho do andar de cima. Lhe vi ontem chegando, e não ousei em perturbá-la, mas vejo que ainda não levou as malas para seu apartamento... Quer ajuda? Eu posso ajudá-la se quiser. - recordara Lívia, da rápida apresentação do rapaz.
Agora sim, fazia sentido. Ele fazia engenharia. Como não haveria de lembrar?
- Você faz engenharia, não é mesmo?
- Sim, eu faço. E você? Perdão, não perguntei ontem pra você, ou perguntei? Eu não me lembro.
- Não. Não perguntou. - riu Lívia, ele era tão desesperado, parecia engolir o mundo quando falava. Atropelava as letras, as frases, as vírgulas, como se houvesse pressa em dizer tudo o que pretendia.
E ele tinha razão em ter pressa, pois num piscar de olhos, o ponto não só de Lívia, como o deles, havia chegado e como se era de se esperar, cada um iria para um canto.


Continua...

4 comentários:

  1. Não pensa em escrever um livro? Vc tem um grande talente. Acho que já disse isso, rs.

    ResponderExcluir
  2. Concordo! Você é muito nova e já escreve muito bem! Parabéns. Quem sabe não nos agracia com suas histórias. A literatura brasileira precisa de talentos =)
    beijo

    ResponderExcluir
  3. Peço mil desculpas pela demora em comentar aqui, mas tive resolvendo uns lances por aqui. rs E nossa, como eu estava com saudades desse conto e das suas palavras. É bom ver Lívia feliz sem lembrar-se do Eduardo (pelo menos por enquanto, rs).

    Um beijo, Gabi.

    ResponderExcluir
  4. Escrever é esse o teu dom!
    Detesto despedidas! bj

    ResponderExcluir

Faça um comentário, se houver um. Caso ao contrário, se apenas gostou do texto, ou o leu e não há nada a declarar, clique nas opções acima (Eu li/E gostei).
Saiba que não precisa obter conta no Google para comentar, você pode deixar seu comentário como anônimo. Preferindo se identificar, deixe seu e-mail ou algo assim. Os comentários de postagens recentes passam primeiro pela minha aprovação, não o postarei de você quiser deixá-lo oculto.

Pratique a leitura.

Translate