domingo, 4 de julho de 2010

Despedida XI


Parte XI

Assim que Lívia encostou a porta do dormitório, caminhou silenciosamente até a cama e se lançou em meio as cobertas. Começou a refletir sobre a vida, e por mais que mentisse pra si mesma, ainda sentia em si uma parte deixada por Eduardo. Talvez fosse apenas as mágoas, as decepções que à ela ele causara.
Deitou-se imaginando ter tudo sobre o controle, pensou calmamente em que caminho devia trilhar, e se retornar à cidade aonde meses havia abandonado vinha a ser uma boa ideia.
As férias estavam por vir, e visitar sua mãe seria praxe. Ela devia, não havia outra escolha. Evitar Eduardo seria a parte mais difícil, mas uma parte sua dizia que seria um tanto necessário.
Agora que conhecera outros rapazes, ela devia ter certeza do que sentia; e para isso devia vê-lo novamente, testando assim seu coração.
Acho que já o esqueci, disse a si mesma sorridente. Ajeitou o travesseiro à cabeça.
Ou talvez você apenas acha que sim, Lívia.

A porta em que minutos atrás Lívia se certificara de que estava fechada; agora se entreabrira, e dela saira Isabela, sua amiga de quarto.
Morar em república é assim, você sempre acaba achando uma amiga legal pra compartilhar os estudos.
Isabela era uma loira baixinha, julgava-se bonita. Seios discretos, de pouca cintura.
Isabela era um amor em pessoa, mas quase não falava com Lívia desde que chegou, era muito calada, meio na sua.
Trazia por entre os braços livros.
Isabela cursava medicina também. E pelo contrário de Lívia, esta tinha certeza de sua vocação.

- O que fazes deitada assim? Pensei que fosse à festa, disse a garota.
Lívia lançou-lhe um olhar interrogativo. Mal fazia ideia do que ela falava.
- Que festa?! Haverá alguma festa? Não estou sabendo de nada.
- Como não?, estranhou. Você mesma quem me disse outro dia.
- Então deve fazer muito tempo...
- E como faz!
A garota pousou os livros na escrivaninha que ficava no canto do quarto, e depois seguiu caminho até o closet.

Pelo contrário do que se possa imaginar, o quarto era minúsculo, e ainda assim não ignoraram a presença de um closet. Havia um de certo, embora fosse muito pequeno. O que não fazia tanta importância para Lívia, já que troucera consigo poucas roupas; consequência da pressa em que saiu da cidade.
- E então, o que irá vestir?
- O que te faz pensar que eu vou? E eu nem tenho roupa pra ir.
Silêncio.
- Pensei que você fosse ficar e estudar. Me impressiona ver que você vai à festas.
- Há diversas coisas que você ainda não sabe sobre mim, Lívia.
- Ual... Bom saber.
- Eu sou prendada nos estudos, isto eu admito. Exagerada às vezes, confesso. Mas creio que assim como você, eu também preciso curtir um pouco. As férias estão chegando, e precisamos curtir enquanto se pode. Não tenho nada pra rever hoje, meus estudos ficam pra depois. Agora mesmo eu quero é dançar.
Abriu a porta do closet e depois de muito vasculhar, dele tirou um vestido floral rosa-bebê.
- Você devia ir também.
- Mas você nem ao menos me disse de que festa se trata.
- E preciso? Não é mais que óbvio? Estão organizando uma festa de despedida para as pessoas que vão terminar os estudos neste semestre (que é quando chega as nossas férias). É uma festa de despedida. E dizem que não irá deixar a desejar. Preciso dizer mais alguma coisa pra você ir comigo? Preciso implorar?
- E por que você iria querer que eu fosse com você?
- Porque somos colegas de quarto, e você é a única pessoa que eu mais converso em toda a universidade?!

Ual, ela é mesmo anti-social, pensou, já que comigo de fato trocara pouquissímas palavras.

E então, Isabela encostou o vestido ao corpo como se fosse o vestir.
- O que achou? Vou arrumar um desses pra você.


(Continua)

Um comentário:

  1. Puxa, nunca mais tinha lido esse conto [que, daqui a pouco, dará um livro, rs...].
    Continuo dizendo: quanto mais o tempo passa, mais você escreve melhor.

    Gabi, tu participaste do concurso da Lena?
    Acho que vi teu nome na lista de textos classificados.

    E quanto as visitas, não precisa agradecer... É sempre bom te ler [e juro que não era uma rima premeditada =P].

    Um abraço.

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