domingo, 15 de agosto de 2010

Despedida XVII

Desculpe querida, não pudemos ir buscá-la no aeroporto. Sabe que seu pai está sempre ocupado com aquela joça de moto. Quando é que alguém irá enfiar na cabeça dele que ela não tem mais conserto, ein?
- Pelo visto, as coisas aqui não mudaram.
Joguei minha bolsa no sofá. E fui até a cozinha. Minha mãe lavava a lousa, e logo que a vi de perto, notei que de nada havia mudado. Mesmo jeito de pentear os cabelos, talvez um pouco mais de fios grisalhos, mas fora a isto, nada mais.
- E o Rud?
Minha voz não era uma das mais entusiasmadas, mas de tudo tentei a fazer.
Rud era meu irmão mais novo. Nunca perguntei dele, muito menos o considerava como irmão. Meio-irmão. Era adotado, não que isso fizesse diferença, o grande problema era as encrencas nas quais ele nos enfiava. Não nos, mas sim eles: meus pais.
A última encrenca de Rudson, Rud, foi com alguns malandros da rua 13. Ele sabia que não podia se meter com eles. Se envolvera em drogas, e para eles devia Deus e o mundo.
Papai logo se desfez do carro para pagá-las, e o internou numa clínica de recuperação. Como era particular, logo teve de tirá-lo, não conseguia bancar tudo: a clínica mais a minha faculdade. Confesso que às vezes me sentia culpada por isto. Mas de nada eu tinha por ele ter se enfiado naquela vida sem volta.
- Na mesma, você sabe, querida.
Disso eu já podia imaginar. Nunca mudaria. A menos que alguém decidisse se livrar de um pedaço de gente como ele.
- Eduardo veio aqui assim que você partiu para São Paulo.
- Eduardo? O que ele veio fazer aqui?
- Oras, procurar por você.
- Disse pra onde eu fora?
- Lógico que sim.
- E o que disse ele?
- Nada. Foi embora do jeito que veio. Mas pareceu contente por você entrar na faculdade.
Fiquei a pensar.
- Pensei que você havia dito pra ele.
- Do que?
- Da faculdade, querida.
De nada minha mãe sabia. Exatamente nada do que houve naquela noite em que o expulsei de meu apartamento.
- Não tive coragem de contar. Achei que ele ficasse magoado - menti.
- Logo pensei que fosse por isso. Por isso não ousei em deixar de convidá-lo para jantar.
- Jantar? Hoje?!
- Sim. Ele ficou contentíssimo com o convite. Ele virá esta noite. Separei algumas roupas das quais você deixou aqui em casa em cima de sua cama, caso você queira se arrumar para hoje.
- O papai esta lá fora?
Quis mudar de assunto.
- Na garagem.
- Vou dar um oi pra ele. Já volto.
Dei-lhe um beijo na testa. Cruzei a porta do jardim e fui em direção a garagem.

No caminho fiquei imaginando o que fazer.
A noite passada ainda estava muito fresca pra mim em minha mente. Tudo o que eu fizera. O que passou comigo e Eduardo naquela noite. Já fazia mais de 6 meses, mas tudo ainda continuava o mesmo.
Não podia vê-lo, mas um lado meu estava louco de saudades de seu sorriso. Esse era o problema: a saudade. Ela poderia arruínar todos os meus planos. Não podia mudar de vida. Meu apartamento estava vendido, tinha dinheiro no banco o suficiente para me virar com a faculdade, caso meu pai não conseguisse bancá-la mais. Havia agora a minha vida pessoal em São Paulo. Não podia mudar de ideia. Não! E eu sabia que quando o visse talvez poderia por tudo a perder.

Continua...

3 comentários:

  1. A saudade é mesmo uma devassa. :S

    --
    Gabi, eu bem queria escrever um conto "a várias mãos". Mas não sei, eu ando tão desanimada com o que eu escrevo. Observe, eu mal tenho postado. Preciso me animar e voltar a escrever com confiança.

    Beijo.

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  2. ÔÔÔ que misterio:CONTINUA!
    Adoro suspense

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  3. Erica, não consigo entrar em contato com você! O que houve nos seus comentários do blogger?
    Caso você venha aqui, saiba que eu queria falar com você =(

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