domingo, 15 de agosto de 2010

Despedida XIV

O que faz aqui a esta hora? perguntou-me Isabela assim que cruzei porta a dentro.
Encostei a porta atrás de mim, tirando meu casaco.
Ela estava de pé ao lado de sua cama, de costa para mim, remexendo em alguns livros, dos quais não despertaram em mim muita importância. Eu não me recordo do que se tratavam. Talvez matemática ou então física. Não sei.
Atirou algum deles na escrivaninha. Virou-se para mim, com distância de menos de um passo, tocando numa mecha de meu cabelo.
- Tudo bem? Olha só pra você... Por onde andou? Depois que entramos na festa não vi mais você.
- Eu estou bem, menti. Não precisa se preocupar.
Passei por ela, fui até minha cama, intocavel, estava exatamente do jeito que eu havia deixado antes de sair a noite passada.
Abri o closet, tirei de lá uma toalha seca; precisava tomar um banho. Talvez um banho me fizesse esfriar a cabeça, apesar de saber que nada iria fazer eu me sentir menos culpada. Sabia que não adiantaria muito.
- Sei que não é da minha conta...
- Ainda bem que sabe. Se não se importa, tenho muito o que fazer. Vou tomar uma ducha, mas logo estarei de volta. Se for sair, peço apenas que deixe as chaves no lugar de sempre.
- Mas e as suas chaves?
- Eu as perdi. Peço que compartilhe as suas comigo. Mas não será por muito tempo. Hoje mesmo estou de partida.
- Partida?!
- Vou viajar, Isa. Vou ver meus pais como o prometido. Mas antes de voltar as aulas, assim que eu retornar pra República, eu irei providenciar uma cópia das chaves para mim; não quero incomodar você.
- Você não incomoda, Lívia. Mas eu fiquei preocupada com você por causa de ontem.
- Tudo bem, Isa. Não se preocupe comigo, eu já disse. Nem mesmo minha mãe mas o faz. Apenas saí com uns amigos meus, acabamos dando uma volta pela cidade, enchendo a cara, por isso voltei somente agora.
Isabela nada mais disse. Deu-me passagem, e assim logo saí. Desci até o têrreo, com todo o cuidado possível para não esbarrar com Caio. Tomei minha ducha, e assim que subi de volta ao quarto, fiz minhas malas, chequei o passaporte e chamei um táxi.
Vi Caio somente quando entrei no táxi. Da janela da varanda da República, pude vê-lo sentado ao lado de um amigo tomando café; provavelmente sem açúcar e bem forte para curar a manguaça. Ele não me viu, disso tive absoluta certeza. Mal olhava em minha direção.
Entrei no táxi, e antes de notar, perdida em meus pensamentos. O taxista disse:
Chegamos, senhorita. 23 reais de viagem mais 5 pela bagagem, custa 28 reais.

Continua...

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