domingo, 15 de agosto de 2010

Despedida XV

Abri a carteira, assim que o taxista desembarcou minhas malas. Peguei-o, e segui pelo aeroporto. Após enfrentar uma imensa fila, minha vez enfim chegou.

Um imenso calafrio percorreu todo meu corpo assim quando pisei no avião. Não era medo de voar, isso eu já o tinha feito diversas vezes, era o medo do que me esperava à alguns Estados adiante.
- Por acaso este é o acento 25A?
Disse um rapaz parado ao meu lado.
- Não sei, senhor. Não me dei conta, me perdoe. Estou sentada no seu acento?
- Acho que está, riu ele meio sem graça. Sei que é tolice, mas é bom sentarmos nos lugares predestinados...
- Não, não. O senhor tem toda razão.
Levantei-me dando passagem, assim que ele passou por mim, sentou-se na poltrona em que eu estava, a poltrona 25A.
- A janela é sua, disse por fim, disse eu sentando logo ao lado dele.
- Não faço muita questão, disse ele. A última viagem que eu fiz foi na janela, e não tenho boas lembranças dela.
- Sinto muito, senhor.
- Não sinta. E por favor, não me chame de senhor; meu nome é Oliver, e o seu?
- Prazer. Sou Lívia. Perdoe-me novamente por ter sentado em seu lugar, Oliver.
- Tudo bem, desculpas aceitas.
A aeromoça, como de costume, assumiu o interfone e em três línguas diferentes ditou as medidas de emergência caso acidentes.
- Essa ideia do avião poder cair me dá arrepios.
- Pensei o mesmo assim que subi neste avião.
- Mas ainda sim considero o avião um dos meios de transportes mais seguros.
- Sem dúvida.
- Ainda mais porque meu trabalho requer muito o uso dele.
- E ainda sim, tem medo de voar? Engraçado.
- É um pequeno probleminha do qual eu tenho que lidar toda vez. Mas nada que acalmantes não resolvam.
Não sei se ele pode notar minha expressão de terror. Pois logo em seguida caiu a dar gargalhadas, dizendo repetidas vezes: foi só uma brincadeira, só uma brincadeira. Não uso calmantes, fique tranquila.
Sorri meio desconsertada.
Não soube bem do que ele trabalhava, e confesso que fiz pouco caso. Apenas usava um terno azul-royal, uma gravata preta simples; de vista poderia até afirmar ser um empresário, ou algo do tipo.
Ele era simpático, e muito conversador. Sem me dar conta, havia contado quase tudo de minha vida para ele: meus estudos, aonde morei a infância toda, meus objetivos, meus pontos turísticos prediletos, minhas alergias, o que eu sabia cozinhar, quais eram meus filmes favoritos, e tudo o mais; menos, é claro, sobre minha péssima vida amorosa. Acho que nós dois, mal queríamos tocar em tal assunto.
Nos dedos ele não trazia nenhuma aliança, nem se noivado, nem de casamento. Solteiro, assim pude deduzir.
Um solteiro bonitão, não pude deixar de observar.
Alto, moreno, nada de mais talvez, mas consigo trazia algo que não consigo explicar até hoje. O jeito de olhar, mexer os lábios, o sorriso de canto. Sedutor.
A questão que não calava era: O que um gato daqueles e ainda provavelmente cheio da grana, fazia sozinho indo pra Sergipe?
Não ousei em perguntar se lá ele teria companhia.

Continua...

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