terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Egocentrismo

Pela brecha da porta ela pôde ver a TV ainda ligada, luzes faiscantes se refletiam no piso de porcelana. Na cama Alícia afagava os cabelos. "Ele ainda está acordado" presumia ela. Tremula ajeitou o cobertor que a aquecia. De repente o ambiente ficara frio; estava um gelo.
Poderia ir até lá falar com ele sobre os papéis... Melhor não.
No cômodo ao lado dormia seu filho. Bernardo, 7 anos, os pais com o divórcio em andamento, nos olhos as lágrimas, o peito apertado.
Alícia não queria acordá-lo.
No sofá o futuro ex-marido fingia dormir; na mão os papéis na outra a caneta.
Assinar ou não?
Havia jurado ao altar "Que a morte os separe" e agora um fútil papel iria fazê-lo.
A morte? A morte seria passar mais um dia naquela casa, ele pensava. Não a amava mais, há um tempo atrás havia se tornado agressivo, o próprio filho dele tinha medo. Possuía relacionamentos extra conjugais com uma garçonete e agora de frente a separação de bens, e a obrigação da pensão ele se via covarde.
"Não é justo" ele pensou "Sonhei com esta casa, conquistei tudo o que tenho hoje, e ela? Apenas casou-se comigo e agora leva a metade de todo o meu suor".
Roberto se enganava em pensar somente em si, não levava em conta a batalha de Alícia ao dar a luz, ao cuidar da casa e do filho; renunciou a vida social, se tornou a vítima de uma traição e um homem violento.
Roberto abriu os olhos e fitou o relógio da TV. 01h14.
"Que se dane" refletiu largando a caneta "Até que a morte nos separe"
(Ele e os bens materiais)

9 comentários:

  1. Inumeros são os casos de homens e mulheres também que preferem viver infelizes em seus lares a encarar uma separação conjugal. O dinheiro pesa, os bens materiais também e quando há crianças ai pesa bem mais. Relatou tantas realidades, inclusive a que já presenciei em casa. No meu caso foi menos doloroso já que não houve agressão física.

    Beijo, muito bom que escreveu. A ganancia ainda está presente em muitas pessoas, até em quem a gente duvida.
    Excelente 2011.

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  2. As pessoas antes, se casavam para ficar juntas.
    Hoje, para se divorciar,
    os números entristecem :(

    Lindo e intenso como sempre,
    gabs...

    Beijos!

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  3. Nossa imaginei certinho a cena Gabs,pena que imaginei meu tio como personagem =/
    Sempre leio e nem sei o que comentar direito =[
    Bjo Gabs

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  4. Quantas vezes nos vemos presos em um relacionamento, sem precisar de um papel pra acabar com tudo, precisando apenas da nossa decisão pra sair daquilo que antes era nosso porto seguro e acaba se tornando nosso inferno. Mas tomar a decisão de cair fora, mesmo com tudo estando já acabado, sempre, ou quase sempre, apavora muitos. É o medo do desconhecido. As vezes ficamos tanto tempo em um relacionamento que esquecemos como éramos antes dele. E o medo de ter que viver novamente sem ele dá medo, e nós temos medo, muito medo do desconhecido. É incrível como ficamos até acomodados com o relacionamento ruim. Não deveríamos, deverímos buscar coragem, cair fora, encerrar ciclos, como cada um preferir chamar, mas olhar primeiro pra si mesmo, buscar o amor por si mesmo e a felicidade, mesmo estando sozinho.

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  5. Oi Gabriela.

    Muito bom esse conto. Me lembrou um caso, bem parecido. De fato narra a realidade, as pessoas estão cada vez mais materialistas sem se importar com o sentimento dos entes queridos e você conseguiu demonstrar bem isso, parabéns!
    Sem amor, tudo se torna mais difícil.

    Beijos, feliz ano novo!

    Thiago

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  6. Hoje é natural vermos casamentos se desfazendo vitimas do egoísmo...
    Belo texto!!!

    Bjs

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  7. Olá Gabriela
    Desejo a você e família,um Feliz Ano Novo, cheio de realizações, amor e paz.
    Bjux

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  8. Massa,gostei do texto.Realmente pra muitos é difícil terminar algo,e que a princípio seria pra sempre.Mas se o amor já morreu,a morte de alguma forma ja os separou.
    Achei teu blog pelo de Alan(Viveiros de Versos).

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  9. Sempre que posso..passo aquii no seu blog..gosto de vir aquii..ahh..gostei muito da apresentação..pq coloca em palavras..

    "se eu gritar, o munda não vai me ouvir.."

    bjOOo

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