domingo, 3 de outubro de 2010

Em algum lugar com um certo alguém

Ela acordou, na verdade nem dormira, rolou a noite inteira pela cama. Exausta, decidira não discutir com o sono que já muito não a visitava. Levantou-se, esbarrou em algo jogado ao chão, acordando seu namorado que ao seu lado da cama dormia. Era madrugada, nada era nítido. Escuro. O quarto quase vazio. Quem está ai? Sou eu, respondeu ela preocupada, lhe acordei, não foi? Me desculpe. Volte a dormir, irei apenas fumar um cigarro. Está tarde, você não pode fazer isto amanhã? Volte pra cama.
Não, não posso.
Passou pela cozinha, abriu a porta da sala e no sofá se sentou. Ainda na escuridão, tateou a mesa de centro a procura de um maço de cigarro. Achou-o, acendeu-o e começou a tragá-lo refletindo sobre sua vida.
Do corredor que dava para a sala avistou um vulto se aproximando.
O que anda te preocupando? Era ele, sentou-se ao seu lado.
Aceita? disse ela oferecendo um maço ao acompanhante que acabou por recusá-lo.
- Nervosa com a mudança?
- Na verdade, não. Já fizemos isto outras vezes.
- Mas agora é diferente, oficializamos nosso compromisso, vamos morar numa casa somente nossa, comprada com nosso dinheiro. Estamos livres daqueles malditos alugueis.
Ela riu imitando uma chaminé, expulsando fumaça pelas narinas e boca.
- Sabe, às vezes nem acredito que amanhã iremos nos livrar de tudo isto.
- Pois é...
- Tem algo que você queira me contar? Desabafar, sei lá. Você tem estado fechada esses dias, começo até achar que isso tem a ver com o fato disso estar ficando sério agora.
- Lucas, isso sempre foi sério.
E calou-se.
- Não que eu ache que você nunca levou a sério...
- Lucas, o problema não é isto. Sou eu, talvez.
- Como assim? Não há nada de errado.
- Às vezes acho que sim.
- Quer conversar sobre isso?
- Você não?
- Lógico que quero. Estamos sentados neste sofá em plena a madrugada, você fumando este maldito cigarro, e eu aqui exalando tudo isso. Vim até aqui pra te ouvir, sai da cama quentinha pra ficar ao teu lado, pois quero sempre estar aonde você está.
Silêncio, mais algumas tragadas.
- Desculpe pelo cigarro.
- Não me importo. Sei que você só fuma quando tem problemas.
- Estou mesmo preocupada... Minha ex melhor amiga, Jéssica... Descobri coisas dela. Nunca pensei que era seria capaz e... Veja só, as pessoas me surpreendem o tempo inteiro e eu nem me acostumei com isso ainda. As pessoas são tão interesseiras, Lucas...
- Tem medo de eu lhe magoar, não tem? Já disse que não farei isso.
- Jéssica também me disse isso diversas vezes, e...
- Mas é diferente, ela não está apaixonada por você, nem muito menos um dia poderá adorar aquelas bobaginhas que só você fa...
- Cretino, e o socou brincando. Você não presta, já disse isso? disse gargalhando enquanto largava o que sobrara do cigarro no cinzeiro.
- As pessoas são interesseiras sim, é normal. Todos nós somos. E eu sempre estarei interessado em você, e nessa sua forma de rir parecendo uma criança de 4 anos. Eu te amo.
E na sala quase vazia, ecoou risos seguidos de um silêncio que acobertou um beijo. E eles fizeram pela última vez amor naquele cômodo.

2 comentários:

Faça um comentário, se houver um. Caso ao contrário, se apenas gostou do texto, ou o leu e não há nada a declarar, clique nas opções acima (Eu li/E gostei).
Saiba que não precisa obter conta no Google para comentar, você pode deixar seu comentário como anônimo. Preferindo se identificar, deixe seu e-mail ou algo assim. Os comentários de postagens recentes passam primeiro pela minha aprovação, não o postarei de você quiser deixá-lo oculto.

Pratique a leitura.

Translate