sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sou de carne e osso, mas é o invisível quem me corroe.

Ele vem não sei de onde. Se soubesse o poria um fim, quem sabe? Arrancaria o mal pela raiz. O destruiria assim como ele faz a mim. Ele vem sorrateriamente e destroe todo tipo de felicidade que sinto ao te ver.
Tenho medo. É. Medo de amar você. Patético confessar, mas tenho medo de mim. Assim como diz Drummond, meu favorito Andrade, o amor nos desperta; é ele quem faz nos ver e descobrir-nos um pouco mais. É através do amor que vemos nossas fraquezas, exploramos nossos limites. Até aonde iria por alguém? Eu mataria por ciúmes? Engraçado, eu sei lá. Tenho tanto medo de amar que nunca tentei. Porque eu me desconheço, e se tenho medo de amar-te é porque tenho medo de explorar-me um pouco mais além. Tenho medo do que sou capaz, tenho medo de decepcionar-me com o que sou. E se eu for alguém que detesto? Já sentiu vontade de sumir e quando partiu percebeu que mesmo em outra dimensão ainda carregava aquele anseio de fugir e fugir...?! Pois é, eu sinto. Sinto as vezes vontade de fugir de mim mesma. Mas quando amo algo ou alguém, não posso fugir... Não podemos fugir daquilo de dentro da gente, podemos? Eu não consegui quando quis.
Eu fujo dia após dia de mim... Fujo do que sou. Fujo, fantasio ser outro alguém. Porque cansei de ser eu mesma. Cansei de ser tão boa e levar desaforos por isto. Cansei de viver e não saber ao menos o que faço aqui.
Eu cansei de ter medo, mas não consigo evitá-lo.
Tenho medo de ter um filho dias mais tarde, e não poder responder-lhe...
- O que faço aqui, mamãe?, no mundo.
- Nem eu sei. Mas meu pai sempre dizia a mim para estudar bastante, pois quem estuda tem emprego, e quem tem emprego tem dinheiro. E então com o passar dos tempos, percebi que gastamos nossa saúde toda trabalhando, dando duro. Compramos casa, torramos dinheiro em roupa. E depois com o dinheiro que nos resta, tentamos subordinar a saúde que no final dos dias nos cobra um preço alto; às vezes sem valor. Remédios, exames, consultas... E às vezes, a saúde já muito cansada decidi tirar umas férias permanentes. E então, sem mais nem menos, piscamos os olhos e vamos pra outra dimensão. O céu é o limite, ele sempre dizia.

Sou tão fraca... Tão fraca. Principalmente quando amo, por isso evito qualquer tipo de amor. E se te evito é porque fazes sentir-me assim... Tão fraca, tão tola, maleável. Não gosto disso.
Tenho medo dos sentimentos, pois são invisíveis, não sei daonde vêm, e mesmo assim... brotam do nada sem permissão em alguma parte de nós. Uns dizem o coração, mas ainda aposto na mente. O amor está aqui, bem na minha cabeça. E eu tenho medo Dele. Ele me faz chorar quando quer, e de repente sorrir quando você vem.
Não tenho medo de admirar-te de longe, não. Mas quando chega mais perto para admirar-me também, fico sem jeito. É medo, não vergonha. É medo de ter-te em meus braços e no fim perde-te por uma fração miníma de um piscar. Um piscar ousado de olhos que se enamoram. Um piscar de olhos que levam embora o objeto adorado. Um piscar de olhos que se vê a derramar lágrimas por sofrer por ser tão fraca, medrosa, por seu eu mesma.
Eu tenho medo. Medo de arriscar. Medo de amar e perder. Medo de perder tudo o que amo, pois não amo o mundo, amo o que há nele: as pessoas. E se um dia eu as perder, perderei o chão, a vida. E rezarei dias e dias para que as tais férias permanentes venham sem demora.


De verdade, admiro quem perde parentes e ainda sim ficam de pé. Nunca enchi a cara, mas já disse para todos que me conhecem: Se eu um dia perder alguém tão próximo, principalmente meu pai ou minha mãe, ou meu irmão, sairei da linha... pois tudo pra mim perderia o valor. Viraria uma dramaturga muito das louca, seria como a Amy Winehouse, apenas com uma diferença: recitaria poemas do Bandeira - referidos ao amor pela morte - com um copo de wisk na mão em meio a uma praça qualquer, de preferência bem frequentada.
As pessoas deviam saber mais sobre o amor. As pessoas deviam parar de abrir o guarda-roupa e questionar a moda. Porque já usei esta peça na festa de fulana... não posso repetir.
As pessoas deviam parar de usar umas as outras por diversão. Procurar de verdade alguém. Deviam beijar quem amam, não rostinhos bonitos e cabeças-de-vento.
Um dia eu já curti um puts puts, um lugar bem movimentado. Sou jovem. Mas hoje não me agrada mais estes lugares. Me sinto perdida dentro deles. A última festa em que fui para fazer companhia a algumas amigas de infância, fiquei sentada; exatamente sentada num puff, olhando as pessoas passando, as garotas que ontem brincavam descalças na rua de corda, agora desfilando de saltos. São tintas que cobrem seus rostos. Maquiagem, elas dizem. Fazem-as ficar mais velhas. Eu tenho 18, mentem. E eu tenho medo do que vejo. Tenho medo de ver as pessoas que amo vendendo a alma ao cigarro, maconha, heroína. Tenho medo de ver a garota que estudou comigo anos atrás, e brincou comigo de boneca, agora brincando de ser mamãe.

As pessoas deviam amar a si próprias. Andarem nuas, sem maldade. Pra que sapatos se o prazer maior é sentir o pé no chão gelado? Outro dia a chuva molhou-me os calçados, e voltei pra casa sem eles. Na mão meu velho all star, na outra a mochila, sobre a cabeça a chuva dando-me um banho. Foi a sensação mais gostosa que senti em todo este ano. Não teve preço. Incrível.
As pessoas deviam amar menos o físico, pois o amor maior está no psíquico, acredito assim. As pessoas deviam ser mais loucas. Deviam ousar. Sair com uns amigos, cantar como loucos no karaokê, pegar um táxi em plena madrugada e conhecer o motorista. Eu já fiz isso. Perigoso pra quem tem malícia, mas pra quem tem um bom coração, até mesmo as pessoas mais más amolecem. Eu sou louca. Me considero. Mas também tenho medo. Mas não do amanhã, pois vivo o hoje como o último.
Só tenho medo de verdade, é de viver sem meus pais. Porque eles são o único motivo de eu não sentir medo de viver.
Só tenho medo de ama-los como amo, e ver a vida tirando de mim o que eu chamo de meu.



Pauta Blorkutando
Tema: Medo
Texto merecedor da 3ª colocação
Semana 113ª


Confesso honestamente que não importa minha colocação nesta competição.
Adorei a ideia da pauta, e escrevi com o maior prazer existencial.
Meu eu falou por mim.
Após reler para conferir os erros gramaticais descobri outro eu que desconhecia.
Incrível... quanto mais escrevo, mais exploro uma Gabriela escondida dentro desse meu corpo que nem é meu.

22 comentários:

  1. e ficou realmente fantástico.
    é tão difícil (pelo menos pra mim é) falar de medos e você conseguiu ir fundo.

    o amor dá medo. ele domina, tanto as nossos sorrisos, quanto as nossas lágrimas. e essa dominação pode ser aterrorizante.
    principalmente no caso de pessoas (como nós) que acreditam que podem ter controle absoluto sobre tudo.
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Eu não poderia ter lido algo melhor nessa sexta-feira, Gabriela.
    Tenho apreço por quem escreve com sinceridade e sem prepotência como tenho visto por ai. Você se expoe de maneira linda, flor.
    Me vejo nas suas palavras, já fui e sou assim como você: questionadora, louca de amor pelos nossos, opiniões amadurecidas.
    Se tornará uma mulher e tanto, tenho certeza.

    Adorei ter vindo aqui hoje.
    Beijos e bom fim de semana.

    ResponderExcluir
  3. O texto ficou realmente muito bom, fiquei até sem palavras.

    bjus =*

    ResponderExcluir
  4. Seu dizer, pra lá de corajoso, faz com que eu não tenha medo de aplaudi-la de pé.
    Cadinho RoCo

    ResponderExcluir
  5. Oi menina q belo texto, seja fraca, mas não evite o amor, ele pode lhe fazer forte, imensamente imbatível, uma maravilha ler seu post, sugestivo e...levou-me à pensar e pensar...é ótimo, pra vc minha linda bjos, bjos e bjosssssssssssssssssssssss

    ResponderExcluir
  6. Passeando pela blogosfera, precisamente fazendo visita a 'Casa de Mariah', vim parar aqui, sem pedir licença, invadi sua casa virtual tbém...
    Muito bons textos, sensibilidade à flor da pele! Sigo-a, para saber voltar, sempre!
    Bjs*

    ResponderExcluir
  7. Gabriela!

    Poxa que bom que consegui comentar dessa vez, digo isso pq vim aqui da ultima vez e não consegui comentar, até procurei por teu email por aqui pra avisar/perguntar.

    Teu texto é maravilhoso, cheio de sensibilidade, escreva sempre, não pare nunca!

    Beeeijos.

    ResponderExcluir
  8. Ah, pode ter certeza, eu entrei sim e bastante.
    ainda bem que voltou os comentários, eu tava achando que era eu que não tava sabendo. rs

    Beeijos e bons sonhos, Gabi!

    ResponderExcluir
  9. Oi Gabriela.

    Muito bom o texto. Gostei. A gama de sentimentos que descreve tendo como raiz um único motivo: Medo.
    O medo é bom sabe? Valorizamos o que temos por causa do medo. Hesitamos em fazer coisas imprudentes e desnecessárias por causa do medo. Mas há momentos em que precisamos superá-lo, seguir em frente mesmo que um pedaço nosso fique para trás. O medo é temporário, mas o arrependimento é eterno. Esse momento de superação é o que eu chamo de coragem.
    Parabéns pelo post!

    Abraço,

    Thiago

    ResponderExcluir
  10. Temos de medo de entrar em uma paixão que pode dar certo ou não, e isso sempre acontece. Preferimos não sofrer a nos entregar a um amor que pode valer à pena um dia.

    ResponderExcluir
  11. Nossa Gabi, foi de uma intensidade tremenda. Quanto mais eu lia, mas eu queria ler. E a conclusão, inusitada. Me surpreendi, como todas as outras vezes.
    Quando amamos, sentimos medo. Eu sinto até hoje de perder o cara que me faz feliz. Mas é algo que eu acho normal, porque é amor. Mas evito pensar, porque assim, perderia o tempo que tenho com ele. Então, não hesite em amar. Ame, com todo o coração. Se for para sair machucado, o tempo irá curar :)

    Beijos, querida.

    ResponderExcluir
  12. Ah, medos. Eu tenho medo de ter medo. De fato, digno o seu texto de primeiro lugar, isso sim!
    Mas eles sempre tendem pro lado "conto-viveram-felizes-para-sempre". =/

    Beeijos

    ResponderExcluir
  13. muito bom o texto sim, revelador, e sem duvida muita gente se sente assim e nao consegue revelar, muitos nem sabem que temem.

    beijo!

    ResponderExcluir
  14. O que você disse sobre quando amamos alguém é que passamos a nos conhecer é uma super verdade... E ter medo de amar e se arriscar é horrível, digo isso pois já perdi muita coisa por medo.
    Beijos

    ResponderExcluir
  15. Gabi,
    coloquei um post a respeito do seu blog lá na minha casinha tá?
    se se importar, me avisa, que eu retiro.
    beijos
    Mariah

    ResponderExcluir
  16. Nossa, mas que enchurrada de coisas! rs! Gostei quando vc declarou seu amor pelos seus pais (acho que todo mundo tem medo de perder os seus) e quando adimitiu ter medo de amar... Tudo isso foi muito bonito e sincero, mereceu a colocação no BK.

    Concordo que as pessoas deveriam ser mais coração e menos aparências... Mas bobos são eles, heiM? Tomar banho de chuva é o máximo!

    ResponderExcluir
  17. Sobrar-te palavras tão lindas nos meus ouvidos!
    obrigada!


    beijos querida
    obrigada pela visitinha!

    otima semana

    ResponderExcluir
  18. Brigado pelo visita e o comentário.
    Universo paralelo é um nome que adoro.
    Microbeijos.

    ResponderExcluir
  19. Gabiela,


    Que bom que escreves , ... :)


    Bjo.

    ResponderExcluir
  20. meu amor .. sempre q posso corro e venho ver seus textos maravilhosos!! e saiba q me faz um bem,continue sempre assim amigaa,beijooo s2'

    ResponderExcluir

Faça um comentário, se houver um. Caso ao contrário, se apenas gostou do texto, ou o leu e não há nada a declarar, clique nas opções acima (Eu li/E gostei).
Saiba que não precisa obter conta no Google para comentar, você pode deixar seu comentário como anônimo. Preferindo se identificar, deixe seu e-mail ou algo assim. Os comentários de postagens recentes passam primeiro pela minha aprovação, não o postarei de você quiser deixá-lo oculto.

Pratique a leitura.

Translate