Romances de cafeteria

"A gente subestima as pessoas", ele disse enquanto tomávamos café.
Ficou parado a fitar a xícara, como se esta fosse foi a única que o acompanhava naquela tarde.
- Odeio quando você não olha pra mim enquanto fala comigo, parece que a xícara é quem fala com você.
"Você odeia muitas coisas, não é?", fora o necessário para que começássemos a discutir.
Na verdade, talvez estivéssemos discutindo desde que entramos na cafeteria. Talvez eu não tivesse notado que discutíamos há semanas. Que discutíamos sem perceber... que discutíamos quando não dizíamos nada.
Estranhávamos. E isso já estava acontecendo fazia algum tempo...
Talvez tivéssemos terminado desde o Café naquele dia e eu não notara.
Talvez... mas oficializamos o transcorrido uma semana depois, numa festa de um amigo em comum.
E depois vieram me perguntar o que fizera com que terminássemos. Eu não sei, confessei.
"A gente nunca sabe quando começa e termina as coisas."
É como no princípio, você entrou na minha vida sem pedir licença e agora está de partida, e eu nem sei se você disse Adeus.
"Acontece. Nada mais" foi o que eu disse quando você afirmou que eu odiava suas roupas, seu gosto musical, suas piadas.
Mas eu não as odiava. Eu odiava seu jeito egoísta, de fazer as coisas pra você. Aliás, você nunca contou as piadas para mim... contava-as para a xícara de café. Esta sim, te acompanhou esses meses todos... como se eu não estivesse ali.
No fim, talvez fôssemos o café. E talvez fora nisso que você esteve pensando de uns meses pra cá.
Estávamos esfriando feito o café parado na xícara. Ou então, éramos a xícara: incapazes de manter o café quente por muito tempo.
Talvez... Talvez...
Talvez fosse pra ser assim.
(Mas eu não queria que fosse).